A Praça de São Pedro, no Vaticano, acolheu nesta manhã a Santa Missa pelo Jubileu das pessoas que aderem à espiritualidade da Divina Misericórdia, cuja festa é celebrada hoje em todo o mundo.

O Pontífice explicou que Cristo “venceu, com a ressurreição, o medo e o temor que nos algemam, quer escancarar as nossas portas fechadas e enviar-nos”.

“A estrada que o Mestre ressuscitado nos aponta é estrada de sentido único, segue-se apenas numa direção: sair de nós mesmos, sair para testemunhar a força sanadora do amor que nos conquistou”, assinalou.

A seguir, o texto completo da homilia:

«Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro» (Jo 20, 30). O Evangelho é o livro da misericórdia de Deus, que havemos de ler e reler, porque tudo o que Jesus disse e fez é expressão da misericórdia do Pai. Nem tudo, porém, foi escrito; o Evangelho da misericórdia permanece um livro aberto, onde se há de continuar a escrever os sinais dos discípulos de Cristo, gestos concretos de amor, que são o melhor testemunho da misericórdia. Todos somos chamados a tornar-nos escritores viventes do Evangelho, portadores da Boa Nova a cada homem e mulher de hoje. Podemos fazê-lo praticando as obras corporais e espirituais de misericórdia, que são o estilo de vida do cristão. Através destes gestos simples e vigorosos, mesmo se por vezes invisíveis, podemos visitar aqueles que passam necessidade, levando a ternura e a consolação de Deus. Deste modo damos continuidade ao que fez Jesus no dia de Páscoa, quando derramou, nos corações assustados dos discípulos, a misericórdia do Pai, efundindo sobre eles o Espírito Santo que perdoa os pecados e dá a alegria.

Mas, na narração que ouvimos, aparece um contraste evidente: por um lado, temos o medo dos discípulos, que fecham as portas da casa; por outro, temos a missão, por parte de Jesus, que os envia ao mundo para levarem o anúncio do perdão. O mesmo contraste pode verificar-se também em nós: uma luta interior entre o fechamento do coração e a chamada do amor para abrir as portas fechadas e sair de nós mesmos. Cristo, que por amor entrou nas portas fechadas do pecado, da morte e da mansão dos mortos, deseja entrar também em cada um para abrir de par em par as portas fechadas do coração. Ele que venceu, com a ressurreição, o medo e o temor que nos algemam, quer escancarar as nossas portas fechadas e enviar-nos. A estrada que o Mestre ressuscitado nos aponta é estrada de sentido único, segue-se apenas numa direção: sair de nós mesmos, sair para testemunhar a força sanadora do amor que nos conquistou. Muitas vezes vemos, diante de nós, uma humanidade ferida e assustada, que tem as cicatrizes do sofrimento e da incerteza. Hoje, face ao seu doloroso clamor de misericórdia e paz, ouçamos como que dirigido a cada um de nós o convite feito confiadamente por Jesus: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (Jo 20, 21).

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Cada doença pode encontrar na misericórdia de Deus um auxílio eficaz. Com efeito, a sua misericórdia não se detém à distância: quer vir ao encontro de todas as pobrezas e libertar de tantas formas de escravidão que afligem o nosso mundo. Quer alcançar as feridas de cada um, para medicá-las. Ser apóstolos de misericórdia significa tocar e acariciar as suas chagas, presentes hoje também no corpo e na alma de muitos dos seus irmãos e irmãs. Ao cuidar destas chagas, professamos Jesus, tornamo-Lo presente e vivo; permitimos a outros que palpem a sua misericórdia, e O reconheçam «Senhor e Deus» (cf. Jo 20, 28), como fez o apóstolo Tomé. Eis a missão que nos é confiada. Inúmeras pessoas pedem para ser escutadas e compreendidas. O Evangelho da misericórdia, que se deve anunciar e escrever na vida, procura pessoas com o coração paciente e aberto, «bons samaritanos» que conhecem a compaixão e o silêncio perante o mistério do irmão e da irmã; pede servos generosos e alegres, que amam gratuitamente sem nada pretender em troca.

«A paz esteja convosco!» (Jo 20, 21): é a saudação que Cristo leva aos seus discípulos; é a mesma paz que esperam os homens do nosso tempo. Não é uma paz negociada, nem a suspensão de algo errado: é a sua paz, a paz que brota do coração do Ressuscitado, a paz que venceu o pecado, a morte e o medo. É a paz que não divide, mas une; é a paz que não deixa sozinhos, mas faz-nos sentir acolhidos e amados; é a paz que sobrevive no sofrimento e faz florescer a esperança. Esta paz, como no dia de Páscoa, nasce e renasce sempre do perdão de Deus, que tira a ansiedade do coração. Ser portadora da sua paz: esta é a missão confiada à Igreja no dia de Páscoa. Nascemos em Cristo como instrumentos de reconciliação, para levar a todos o perdão do Pai, para revelar o seu rosto de amor nos sinais da misericórdia.

No Salmo Responsorial, foi proclamado: «O seu amor é para sempre» (118/117, 2). É verdade, a misericórdia de Deus é eterna; não acaba, não se esgota, não se dá por vencida diante das portas fechadas e nunca se cansa. Neste «para sempre», encontramos apoio nos momentos de provação e fraqueza, porque temos a certeza de que Deus não nos abandona: permanece conosco para sempre. Demos-Lhe graças por este amor tão grande que nos é impossível compreender. É tão grande! Peçamos a graça de nunca nos cansarmos de tomar a misericórdia de Deus e levá-la pelo mundo: peçamos para ser misericordiosos, a fim de irradiar por todo o lado a força do Evangelho, para escrever aquelas páginas do Evangelho que o apóstolo João não escreveu.

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